"Não vou declarar e nem responder perguntas", disse. Von Wernich é acusado de revelar a confissão de presos políticos, torturados, às autoridades da recente ditadura argentina, entre 1976 e 1983.
Ele responde por sete homicídios, 31 casos de tortura e 42 prisões ilegais.
No banco dos réus, o ex-sacerdote da Igreja Católica estava protegido com um colete a prova de balas e cercado por paredes de vidro dentro da sala de audiências.
As cenas foram mostradas ao vivo pelas emissoras de televisão do país. Ele é o primeiro religioso a ser julgado por "crimes de lesa humanidade" cometidos na ditadura argentina.
Na sala, deste julgamento oral e público, era possível ouvir os gritos de "assassino" e "prisão perpétua" de familiares das vítimas daqueles anos de chumbo.
Gritos
Diante do juiz, Von Wernich pediu que aumentassem o volume do som dos microfones, alegando que não podia escutar por causa dos gritos fora do Tribunal.
As sessões serão retomadas na terça-feira e a expectativa é de que o processo inteiro dure, pelo menos, dois meses. Nesse período, estima-se que 130 pessoas (sendo 70 vítimas da ditadura) vão prestar depoimentos no julgamento do ex-padre.
As testemunhas estão recebendo proteção especial do Estado.
No ano passado, logo depois de depor num julgamento de outro acusado da ditadura, a testemunha, Julio López, desapareceu e ainda não se tem notícias de seu paradeiro.
De acordo com o historiador argentino Hernan Brienza – um dos que acusa o ex-padre – Von Wernich entrava nas celas e ouvia as confissões dos presos "à beira da morte", mas que tinham a "esperança" de serem salvos pelo religioso.
Brienza é autor do livro Maldito tú eres. El caso Von Wernich, Iglesia y represión ilegal e afirma ser a primeira vez que um ex-sacerdote católico é julgado na América Latina.
Em seu livro, ele conta que Von Wernich fez parte de um sistema, de prisões ilegais e torturas, que teve apoio da igreja na Argentina.
No Tribunal, nesta quinta-feira, o ex-padre ouviu em silêncio, as acusações com os nomes das vítimas. Às vezes, ele fazia algum comentário com seus defensores e chegou a insinuar que chorava.
O ex-sacerdote é acusado como co-autor dos assassinatos de Domingo Moncalvillo, María del Carmen Morettini, Cecilia Idiart, María Magdalena Mainer, Pablo Mainer, Liliana Galarza e Nilda Susana Salomone.
Ele foi preso em setembro de 2003, depois de ter passado quatro anos no Chile, com nome falso.